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Ar Fresco

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Os putos...

Quando situações como aquela ocorrida no Porto acontecem, os extremos tendem a manifestar-se. Contudo, como o mundo não é a preto e branco, nem sempre é fácil chegar ao tom de cinzento pretendido.

Os descupabilizadores do costume já vieram a terreiro defender as "criancinhas" inocentes... Por um lado o seu background social é uma atenuante para o crime; por outro lado, o recente "caso Casa Pia" teria levado as crianças a fazerem justiça pelas próprias mãos. Não fora já toda a etiquetagem social (homossexual, travesti, toxicodependente, sem-abrigo) e ainda iam a tempo de pedófilo, perdendo logo qualquer direito a ser vítima.

Noutro sentido, os defensores das minorias já ganharam argumentos para acrescentar a orientação sexual aos crimes de ódio. Os media que temos continuam o jornalismo de causas e colam-se a uma agenda "bloquista".

Factos: Segundo os dados apurados, não foi possível apurar se o assassinato se deveu à orientação sexual da vítima, ou a outro qualquer motivo relacionado com o seu estado de exclusão social, devido a droga, possível prostituição, etc.

Depois, ainda me custa ouvir falar em morte acidental. Quando um bando de deliquentes tortura continuamente, durante dias, uma pessoa indefesa, das mais variadas maneiras, incluindo uma suposta violação, não se trata de acidente, mas do resultado esperado das acções.

Finalmente, não sei se todo o grupo teve a mesma responsabilidade pelos actos hediondos, se foram só coniventes com a situação ou meros cúmplices por inacção. O que me parece é que antes de se apurarem potenciais factores de desresponsabilização deste caso, se deva antes punir exemplarmente. Mais deverá ser repensada uma alteração da legislação que permita a punição a partir dos 14 anos, no mínimo. A criminalidade "infantil" está a crescer, muito por culpa do sentimento de impunidade, que muitos usam e abusam aquando confrontados com as acusações.

Neste caso, vítima houve só uma: não o homossexual, o prostituto, nem o toxicodependente, nem o travesti – foi apenas aquela pessoa. Quanto ao resto, tudo é ruído...

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Mais mau jornalismo - RTP

Parece que ontem foi o Dia da Língua Materna. A RTP, tentando prestar serviço público, resolveu fazer uma peça sobre as transformações / mudança na Língua Portuguesa...

Depois de uma resenha histórica mal amanhada sobre as dificuldades de fixação de uma "gramática" do português e dos problemáticos acordos ortográficos (foram apenas levemente nomeados), passou-se para a realidade dos dias de hoje, ou seja, mudanças visíveis hoje(?!).

Ora a RTP esqueceu-se de que o Dicionário da Academia de Ciências já saiu há uns anos, logo a palavra "bué" já tinha sido falada e que "cartune" é um neologismo desnecessário dado os equivalentes "caricatura", "desenho animado" ou "banda desenhada", conforme o contexto, já existentes (mas como foi falado recentemente...).

Ora, hoje em dia, não há notícia que se preze que não ponha a nu a ignorância das pessoas, indo à rua. Mais um pouco de "bom português" e de usar como engodo os particípios irregulares, como "matado / morto". O pior é que a explicação que a professora do Ciberdúvidas deu foi tudo menos esclarecedora - talvez se perceba porque tem decaído a qualidade do mesmo. A referência aos auxiliares "ter" e "ser", e qual o respectivo particípio, foi imperceptível.

A partir daqui foi publicidade gratuita, pura e dura, ao Ciberdúvidas. Antes de terminar ainda houve tempo de perguntar umas palavrecas a uma brasileira traseunte sobre Português do Brasil (p.ex.: o uso de "xerox" por "fotocopiadora"...).

Já no início, o uso de duas quadras do "poema da mudança" de Camões, foi resultado de fraca imaginação...

Resumindo, quando anunciaram que iam mostrar o que mudou no Português, em geral, mentiram... a peça foi "bué" (de) má e um "cartune" do que uma peça sobre mudança devia verdadeiramente ser...

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Alguém me explica...

Uma vez que não sou católico, alguém me explica o simbolismo que a transladação do corpo da Irmã Lúcia, para Fátima, tem para os católicos?

E depois conseguem-me explicar a pertinência das transmissões televisivas em directo em todos os canais de sinal aberto e generalistas?

Melhor, conseguem-me explicar as horas de directos a acompanhar um carro na auto-estrada, ou via rápida, que liga Coimbra a Fátima?

E já agora, porque é que a maior parte dos blogues de comunicação e jornalismo nem uma linha escreveram sobre o assunto?

Não está em causa questões de laicidade ou não do Estado, mas sim tentar perceber o interesse jornalístico por detrás destas transmissões. Ou era apenas, mais uma vez, o voyeurismo tétrico em acção?

Obrigado.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

S. Valentim e um poema por E.E. Cummings

Por entre dias conturbados de cartoons e OPAs, de política e futebóis, de Apitos Dourados e rankings bloguistas, é fácil esquecermo-nos de efemérides (para alguns não passa de consumismo) mais simples e por vezes significativas. Quando não se tem é um dia aborrecido e parvo, quando se tem é um dia tão bom ou melhor do que os outros, por isso aqui fica um poema, para ti, de E.E.Cummings:

somewhere i have never travelled,gladly beyond



somewhere i have never travelled,gladly beyond
any experience,your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near

your slightest look will easily unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skilfully,mysteriously)her first rose

or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully ,suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;
nothing which we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility:whose texture
compels me with the color of its countries,
rendering death and forever with each breathing

(i do not know what it is about you that closes
and opens;only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody,not even the rain,has such small hands

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Os desenhos do Demo...

Os cartoons que por aí circularam levaram ao ódio e às manifestações mais absurdas que não imaginava, mesmo em fundamentalistas islâmicos.

1. Só recentemente percebi o que esteve por detrás desta "ideia" de publicar os referidos cartoons. A opção editorial, ao que parece, foi demonstrar que existe liberdade de expressão e que não "temos" (os responsáveis pela publicação) medo de caricaturar o profeta Maomé.

2. Acho que os cartoons não têm grande qualidade, e não se adequaram ao público-alvo; segundo julgo saber seriam ilustrações para crianças...

3. Por outro lado, a reacção de muitos islamitas, fundamentalistas (só pode), é que é provocatória, perigosa e sem senso comum. Perante uns míseros cartoons reagir desta forma, com manifestações de ódio, de morte ao Ocidente, de ameaças de novos atentados, já para não falar na queima de bandeiras e de embaixadas, violência e destruição. Isto nunca poderá ser desculpável!

4. Ultimamente o Ocidente tem um complexo de culpa que não compreendo. qualquer acto, por mais injusto que seja, por mais cruel e desumano, tem sempre algures uma origem no europeu colonizador e explorador. A crescente onda anti-americana e a movimentação de muita esquerda e extrema-esquerda, no sentido da desculpabilização do terrorismo, tem dado mais força aos terroristas e dividido a "sociedade ocidental".

5. Os europeus, a ONU e quaisquer outras instituições não têm de pedir desculpa por nada. Se havia alguém que deveria pedir desculpas seria sempre o editor, o jornal e os próprios "cartoonistas". Os países que se sentissem incomodados e ofendidos poderiam e deveriam fazer chegar até ao governo dinamarquês notas da sua indignação.

6. Não sei como a notícia dos cartoons foi veiculada nos países do Islão. Impressiona-me mais que não se incomodem com todos os atentados suicidas, junto de inocentes, com todos os raptos e mortes em vídeo que daí advieram, em nome do Islão. Sei que há islamitas moderados e islamitas fundamentalistas. Só não sei e não compreendo por que razão se ouve tanto os segundos e pouco os primeiros. Mesmo sendo Maomé uma figura sagradíssima para o Islão e podendo mesmo ser uma ofensa gravíssima; impressiona-me mais a falta de repúdio pelos atentados que tantos mortos iraquianos, tantos afegãos, tantos palestinianos e até israelitas têm causado.

7. Onde estava o pedido de desculpas aos EUA quando os mesmos islamitas fundamentalistas festejavam o 11/9 e o 11/3 e o 7/7 nas ruas do Médio Oriente.

8. Chega de tanta hipocrisia. Pelos direitos da liberdade de expressão, mesmo quando ela é usada para fins desastrosos, mesmo quando a expressão não tem qualidade!

Casamentos...

Aposto que daqui a uns tempos ninguém vai mais saber quem eram a Teresa e a Lena deste país, e muito menos quem era o advogado pro bono que as conduziu para o circo mediático...

Se o objectivo era pôr o país a discutir as virtudes e o conceito de casamento, a constituição, o código civil, os direitos humanos entre outros, então parabéns: ganharam.

Por outro lado, se pretendiam ganhar algum crédito para a causa do casamento homossexual, então perderam... Hoje, 6 de Fev, o assunto já morreu!

Vale muito mais textos como os do Eduardo Pitta, no Da Literatura. (Post com o nome Por Amor de Deus?)